86
57 vezes 9. 513. 57 vezes 10. 570.
67 vezes 1. 67. A última é a mais fácil. Esse é o modo de o pai dizer que fiz um
bom trabalho até então. O pai me diz, não, não tem isso de arco-íris, seu goblin
de bunda. Eu digo a ele que há tal coisa como um arco-íris, pois eu vi um. Não
há arco-íris no mundo de papai agora. Não deveria
haver tal fenômeno no pensamento de um homem. “Tudo bem”, eu digo. Chama-me de
outros nomes. Esses nomes apenas vieram ao meu entendimento depois que eu tinha,
digamos, 3 anos de idade.
Eu deveria ir checar o arco-íris que acabei de ver. Mostro a ele. Dir-lhe-ia “olhe”. Ele não pode. Por que deveríamos retomar a conversa da ofensa, se de fato há um arco-íris fora da casa? Papai fala do que ele não pode ver. Ele perdeu a visão quando eu tinha 2 anos. O pai está cego, o pai não pode ver. Se uma vez ou duas contasse os números errado, ele me diria mais três xingamentos. “Não, não, não, não.” Dão-me nomes que Deus me diz para ignorar, chamam-me de cocô. Ainda posso ver lá fora um arco-íris, porque a porta está entreaberta e porque assim Deus quis até o dia virar noite e eu fechar os olhos para dormir, e o pai também sonhar.
Eu deveria ir checar o arco-íris que acabei de ver. Mostro a ele. Dir-lhe-ia “olhe”. Ele não pode. Por que deveríamos retomar a conversa da ofensa, se de fato há um arco-íris fora da casa? Papai fala do que ele não pode ver. Ele perdeu a visão quando eu tinha 2 anos. O pai está cego, o pai não pode ver. Se uma vez ou duas contasse os números errado, ele me diria mais três xingamentos. “Não, não, não, não.” Dão-me nomes que Deus me diz para ignorar, chamam-me de cocô. Ainda posso ver lá fora um arco-íris, porque a porta está entreaberta e porque assim Deus quis até o dia virar noite e eu fechar os olhos para dormir, e o pai também sonhar.
57 times 9.
513. 57 times 10. 570. 67 times 1. 67. The last one is the easiest. This is dad’s
way of saying I've done a good job so far. Father tells me, no, there ain’t no
rainbow, you ass goblin. I tell him there is such a thing as a rainbow, for I
have seen one. There is no rainbow in dad’s world now. There should be no such phenomenon in a man’s thought. “Fine”, I say.
He calls me other names. These names only came to my understanding after I was,
say, 3 years old.
I should go check the rainbow I have just seen. I show him. I
would tell him, “look”. But he can’t. Why should we resume the offense talk if
indeed there is a rainbow outside the house? Daddy speaks of what he cannot
see. He lost his sight when I was 2. Father
is blind, father can’t see. If once or twice I counted numbers wrong, he
would call me three more names. “No, no, no, no.” They give me names God tells
me to ignore. They call me poop. I can
still see the rainbow outside, because the door is ajar and because so God
wanted until day becomes night and I close my eyes to sleep, and father dreams
also.
~