7
Tila: tenho um novo estilo de
fuga em caso de vergonha extrema. Ir ao alçapão que dá para o porão, abrir a
fantástica porta e me esconder do mundo lá onde ficam guardados baús antigos de
família.
Dário: que te faz pensar que haja
necessidade desses subterfúgios bem agora?
T.: confiei cegamente em
sentimentos e agi de acordo. Veja, sou apenas humana, o coração não é onisciente.
D.: coração cego. O discóbolo
perdeu o rhytmus.
T.: mas como assim?
D.: na Grécia Antiga, o discóbolo era um
atleta que atirava discos, no entanto, antes que o lançasse havia esse momento
que os gregos chamavam de rhytmus
que era prévio ao lançamento em si e em que
rapidamente e preparativamente o lançador ficava parado em harmonia e
equilíbrio, como na estátua de Míron.
T.: está me chamando de
desequilibrada, ora, veja que entendo bem. Acho que vou procurar determinado
alçapão agora mesmo.
D.: se fosse você, procurava
praticar a busca pela legitimidade dos atos, ao invés de ficar tão sorumbática
aí pelos cantos escusos da casa.
T.: como se faz?
D.: não sei bem. Mas imagino que
tenha a ver com não confiar cegamente num coração ou outro, seu ou de outros,
se é que me entende.
T.: andar de galocha,
proteger-se.
D.: até parece que já estamos
usando a razão.
(...)
~