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Como sabemos,
era prática comum nos idos anos que tocássemos a campainha ou algo do gênero e,
depois, nos ausentássemos da entrada da residência do estranho como suspeitos
de uma travessura ou pregadores de peças que se omitem para esconder
seus feitos. Era a energia de infante dispensada de modo um tanto eficaz e de
modo que a diversão imperasse; hoje, aliás, há crianças que o fazem sem resquícios de
vergonha e na frente dos pais.
Por volta de
três anos atrás, tomei conhecimento de Homo Ludens, o livro, e fiz aquela
expressão tão espontânea de espanto que se faz quando se dá conta de um fato
curioso e até certo ponto estarrecedor. Dizia lá que na época dos gladiadores
era comum que os feitos carnicentos e mortais produzidos na arena fossem tidos
como divertidos pelo público. De arregalar os olhos isso, mas diria que me
bastaria a fleugma para lançar mão de demonstrá-lo. Há tanto que agora sei, bem
sei, sobre... bem, gente. E que antes me era extraordinário e que já não é.
Gostaria de um
pouco de chá? Venha conversar comigo na quinta-feira, quando o lustre já estará
devidamente instalado e já teremos trocado a lâmpada para a fluorescente, não
que isso vá interferir em nossa prosa, de qualquer modo. Já não vou ser eu a
bater na sua porta e sair correndo. Espero que entenda que agora tão somente
aguardo os visitantes.